Brasil é o maior consumidor
de agrotóxico do mundo
Só em 2010 o país utilizou mais de 800 milhões de litros em suas
lavouras
A escolha do governo brasileiro
pelo agronegócio, porém, acarreta em riscos até pra quem escolhe se alimentar a
base de alimentos naturais. As grandes corporações, para aumentar sua
lucratividade e deixar sua safra imune a pragas, estão fazendo com que o país
seja invadido por venenos agrícolas e alimentos transgênicos.
Desde 2008 o Brasil é o país que
mais consome agrotóxicos no mundo e, só em 2010, utilizou mais de 800 milhões de
litros em suas lavouras. O Mato Grosso, estado que mais consome, sozinho,
utilizou 113 milhões de litros.
O professor Wanderley Pignati, da
Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), é responsável por um estudo que
analisou os impactos do consumo de agrotóxicos no interior do estado e aponta
que o grande problema hoje é que as grandes corporações transformaram “os
alimentos em mercadoria”.
Um dos episódios mais
emblemáticos aconteceu em 2006 na cidade de Lucas do Rio Verde. Enquanto os
fazendeiros dessecavam a soja transgênica para a colheita utilizando o
herbicida paraquat, uma nuvem tóxica se formou dando origem a uma chuva de
agrotóxicos sobre a cidade que devastou canteiros de plantas medicinais, chácaras
de hortaliças e deixou centenas de crianças e idosos com intoxicações agudas.
O estudo de Pignati levanta
outros dados alarmantes da presença de agrotóxicos em Lucas do Rio Verde: poços
de água potáveis, água da chuva e o ar apresentaram altos índices de contaminação,
assim como a urina dos professores da cidade. A contaminação também atingiu o
leite materno: 100% das 62 mães apresentavam alteração.
Em outubro de 2013, a Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) lançou o resultado do Programa de Análise
de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para). O levantamento mostrou que 36%
das amostras de alimentos analisadas em 2011 e 29% das realizadas em 2012
tiveram presença elevada de agrotóxico. Além disso, 30% apresentaram índices
abaixo do permitido, mas que também pode ser nocivo à saúde.
Os alimentos escolhidos
basearam-se em dados de consumo obtidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE). O campeão de presença de agrotóxico foi o pimentão. Das
213 amostras estudadas, 89% estavam irregulares em 2011. A cenoura teve 67% das
amostras contaminadas em 2011 e 33% em 2012 e o pepino, 44% em 2011 e 42% em
2012.
Transgênicos
Os transgênicos também estão
entrando cada vez mais fortes e com pouca fiscalização no país. De acordo com o
Ministério da Agricultura, pecuária e Abastecimento (MAPA), na safra 2012/2013
nada menos que 83% da produção de soja foram de grãos geneticamente
modificados.
De acordo com, Maria Laura
Louzada, o governo brasileiro precisará agir de forma direta para que o acesso
da população aos orgânicos aumente nos próximos anos. “Como esses alimentos
ainda são relativamente caros para grande parte da sociedade, incentivos
fiscais a produção e a vinculação de compras públicas a esse tipo de alimento
poderiam ser duas saídas para democratizar os orgânicos”, sugeriu.
Como fugir
do agronegócio?
Afinal de contas, qual é a saída
para o brasileiro comer bem? A resposta pode ser mais simples do que se
imagina: a agricultura familiar.
Sem associações com fábricas de
agrotóxicos e com menos compromisso com o lucro capitalista, a proximidade das
lavouras com o consumidor final pode ser uma saída simples e saudável para o
aumento da qualidade e até a queda de preços dos alimentos no Brasil.
De acordo com levantamento da
Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), entidade
liga da a ONU, a agricultura familiar é uma das principais atividades geradoras
de novas fontes de trabalho. No Brasil, ela já é responsável por 77% dos
empregos agrícolas.
Para a safra 2013/2014 o governo
brasileiro prevê investir R$ 39 bilhões para o fortalecimento da atividade, que
foi responsável por 38% do Valor Bruto da Produção Agropecuária. Em 2013, de
acordo com o Ministério do Desenvolvimento Agrário, o Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) disponibilizou a quantia
recorde de R$ 18,6 bilhões.
Pignati acredita que, para haver uma mudança drástica no modo de
produção, o Brasil teria que investir ainda mais em alternativas ao
agronegócio. “A Safra 2014 prevê R$ 138 bilhões para o agronegócio e R$ 3
bilhões para a Agroecologia. Essa lógica tem que se inverter a médio prazo para
termos alimentos saudáveis e não mercadorias ou commodities”,
analisou.
Fonte: Brasil de Fato - 19/03/2014
Por Bruno Pavan
De São Paulo (SP)
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