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BRASÍLIA - O Ministério de Minas e Energia (MME) publicou nesta sexta-feira, no Diário Oficial da União, uma portaria marcando para o dia 15 de dezembro o leilão da usina hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, no Pará, a maior a ser construída nos próximos cinco anos. Porém, segundo a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), até o início da tarde desta sexta a entidade ainda não havia recebido o estudo do componente indígena para análise. Essa manifestação da Funai é imprescindível para a emissão da licença ambiental exigida antes do leilão em obras que afetam terras indígenas. Esse documento com o componente indígena foi protocolado na Funai apenas na sexta, por volta das 17 horas, depois que o Ministério foi questionado pelo GLOBO sobre a ausência de registro de entrega do estudo.
A usina hidrelétrica de São Luiz do Tapajós tem previsão de investimento
de R$ 30,6 bilhões. Entre as etnias afetadas que mais têm criticado o projeto,
um grupo de Mundurukus tentou, em 2013, invadir o Palácio do Planalto
protestando contra novas hidrelétricas na Amazônia.
O leilão foi marcado para 15 de dezembro, ou seja, para daqui a 94 dias.
E a Funai terá 90 dias para avaliar os impactos da usina — ou seja, sua análise
será conhecida a apenas quatro dias do leilão.
A FUNAI e os órgãos do setor elétrico entraram em rota de colisão em
torno da usina do rio Tapajós em julho, quando a entidade indigenista rejeitou
o estudo sobre os efeitos em comunidades da região causados pela construção da
hidrelétrica. A Eletrobras, empresa que representa o grupo de estudos do
Tapajós junto ao IBAMA, incluiu o componente indígena no Estudo de Impacto
Ambiental (EIA) entregue em julho, como ocorre de praxe. Mas, segundo nota da FUNAI
enviada ao GLOBO na sexta-feira, em julho a entidade recebeu “um primeiro
estudo com dados secundários que não respondia às questões primárias” do
componente indígena. Ainda conforme a FUNAI, esse documento foi retirado em
agosto, a pedido da Eletrobras e do IBAMA, que se propuseram a apresentar dados
mais completos.
USINA É A MAIOR PREVISTA EM CINCO ANOS
De acordo com o Plano Decenal de Expansão da geração de energia
elétrica, a usina de São Luiz do Tapajós será a maior hidrelétrica leiloada nos
próximos cinco anos, com potência de 8 mil Megawatts (MW). Assim como a usina
de Belo Monte (11 mil MW), o empreendimento tem interferência em terras
indígenas e afeta diversas comunidades, principalmente os Munduruku.
Nesta sexta, a fundação indigenista ressaltou em sua nota “que a
Portaria Interministerial 419, de 2011, determina um prazo de 90 dias, após o
check list (entrega completa de dados), para que a FUNAI apresente a sua
manifestação”. Ou seja, a FUNAI terá três meses para analisar o estudo sobre de
componente indígena, o que joga esse prazo de avaliação para dias antes da data
prevista para o leilão.
Mesmo antes de solicitar a retirada dos estudos de impacto indígena para
refazê-los, no dia 14 de julho, a Eletrobras já havia solicitado ao IBAMA a
licença prévia para a realização do leilão da usina. Procurado, o IBAMA informou
que essa licença ainda não foi emitida.
Questionado sobre a pendência socioambiental e os prazos para realização
do leilão na sexta-feira, o MME informou que a “Portaria MME nº 485 [publicada
sexta no Diário Oficial], que define as diretrizes para a realização do leilão
de compra de energia elétrica proveniente da usina hidrelétrica denominada UHE
São Luiz do Tapajós, foi publicada em conformidade com a legislação vigente,
atendendo aos prazos de todos os órgãos envolvidos”. O ministério trabalha com
a contagem do prazo de 90 dias a partir da data de 8 de setembro, quando a
Eletrobras protocolou o novo estudo indígena no IBAMA. Nessa conta, haveria uma
margem de oito dias entre o limite da resposta da FUNAI e a data prevista para
realização do leilão.
O governo corre com o leilão da usina de São Luiz do Tapajós por vários
fatores. O primeiro é que a prorrogação da data de entrada de operação da
hidrelétrica — prevista para 2019, com oferta para o setor regulado em 2020 —
exigiria um esforço maior para a construção de outras usinas no prazo original
para dar conta da demanda do país por energia elétrica. Além disso, dada a
localização da usina, no meio da Amazônia, existe um fator conhecido como
“janela hidrológica”, que restringe o período útil de obras a cerca de metade
do ano. Assim, um atraso de poucos meses no leilão pode implicar a prorrogação
do cronograma de construção em um ano.
AINDA SEM PREVISÃO DE AUDIÊNCIAS PÚBLICAS
Mas, depois da manifestação da Funai sobre o novo estudo indígena, ainda
serão necessárias audiências públicas entre o poder público e as comunidades
afetadas, entre os quais índios da região, para que elas sejam ouvidas sobre o
impacto do empreendimento. A assessoria de comunicação do Ibama informou que as
audiências públicas ainda não foram agendadas.
Segundo o Relatório de Impacto Ambiental (Rima) da usina, uma espécie de
resumo do Estudo de Impacto Ambiental, sua construção deverá atrair para a
região cerca de 13 mil trabalhadores no auge da obra. E cerca de 1.400
moradores da região deverão sofrer impacto direto do empreendimento, sendo que
1.100 deverão ser removidos de suas casas. Do total de afetados, 12% se
autodeclararam indígenas ou com ascendência indígena, divididos nas etnias Mundurukus
(51%), Apiakás (27%) e Sateré-mawé (9%). O Rima prevê ações específicas para
estas populações.
No início deste mês, Eletrobras e Secretaria Geral da Presidência da
República estiveram reunidos com os Munduruku em Itaituba (PA), para tratar do
empreendimento e de outras hidrelétricas na bacia do Tapajós. Mas essa consulta
não pode ser considerada uma audiência pública formal. Na ocasião, definiu-se
um novo encontro no início de novembro. Segundo nota da Secretaria Geral da
Presidência, os representantes indígenas solicitaram um encontro com a
presidente Dilma Rousseff até a próxima terça-feira. Até sexta-feira, não havia
previsão para encontro nesse período na agenda da presidente.
Read more: http://oglobo.globo.com/economia/infraestrutura/governo-marca-leilao-para-hidreletrica-no-rio-tapajos-mas-nao-consulta-funai-13925833#ixzz3Ewih6jLY
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